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Blog do Dr. Alexandre Faisal

Exame de toque é desnecessário durante consulta ginecológica

Alexandre Faisal

18/07/2014 14h17

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O exame de toque durante a consulta ginecológica desagrada muitas mulheres. Uma meta-análise questiona o real benefício deste procedimento médico.  

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      Uma publicação recente no conceituado periódico "Annals of Internal Medicine" vai ser comemorada pelas mulheres, principalmente para aquelas que não gostam, e em alguns casos, detestam ir ao ginecologista. Segundo um grupo de cientistas de Minneapolis, Estados Unidos, o exame manual da pelve ou toque vaginal é desnecessário na avaliação de mulheres, assintomáticas, não grávidas e que não estão buscando rastreamento de infecção sexualmente transmissível, orientação contraceptiva ou prevenção de câncer do colo uterino. Ou seja, mulheres que procuram o ginecologista para realizar o chamado exame de rotina. O toque (ou exame bimanual da pelve) é considerado uma parte regular de cuidados preventivos em mulheres há muitas décadas. Como exemplo, em 2008, 63.400.000 exames pélvicos foram realizados nos Estados Unidos. E de fato, muitas mulheres e provedores de saúde acreditam mesmo que os exames pélvicos de rotina devam ser incluídos em uma avaliação abrangente da saúde da mulher. A julgar pelos dados da pesquisa, ambos vão ter que rever seus conceitos.

        Os pesquisadores procuram avaliar, por meio de uma meta-análise, a acurácia diagnóstica, os benefícios e malefícios do exame pélvico neste grupo de mulheres adultas. Para isso foram selecionados 52 estudos, todos em inglês, perfazendo total de mais d 10 mil mulheres para algumas análises. Dois resultados negativos chamam a atenção: o valor preditivo do exame pélvico para detecção do câncer de ovário foi inferior a 4% e não foram encontrados estudos que provassem os benefícios na redução da morbidade ou mortalidade, decorrente de diversas patologias. Para piorar as coisas; na média, 35% das mulheres relataram desconforto ou dor pélvica relacionada ao exame e 30% referiram medo, vergonha, ou ansiedade. Os autores chegam a alertar para o perigo de se fazer o toque é encontrar doenças que não existem, gerando exames e procedimentos médicos desnecessários. Mas atenção, antes que as mulheres possam celebrar o fim das consultas ginecológicas cabe destacar que não foram incluídas na pesquisa mulheres que buscavam prevenção de câncer do colo uterino, investigação de corrimentos e doenças sexualmente transmissíveis, tais como clamídia, gonorreia e avaliação para início de contracepção hormonal. O que convenhamos é uma parcela significativa das mulheres que procuram um ginecologista.

        Uma curiosidade, os autores reconhecem que para algumas mulheres, "fazer o exame de toque" ajuda de algum modo a estabelecer uma relação mais aberta com a mulher, possibilitando a discussão de questões emocionais e da sexualidade. Como se vê, com raras exceções, as conclusões desta pesquisa serão motivo de alegria para muitas mulheres. E, de infelicidade, para todos os ginecologistas.

(Bloomfield et al. Screening Pelvic Examinations in Asymptomatic, Average-Risk Adult Women: An Evidence Report for a Clinical Practice Guideline From the American College of Physicians. Ann Intern Med. 2014;161:46-53)

Sobre o Autor

Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.

Sobre o Blog

Acompanhe os boletins do "Saúde feminina: um jeito diferente de entender a mulher" que discutem os assuntos que interessam as mulheres e seus parceiros. Uma abordagem didática e descontraída das mais recentes pesquisas nacionais e internacionais sobre temas como gravidez, métodos anticoncepcionais, sexualidade, saúde mental, menopausa, adolescência, atividades físicas, dieta, relacionamento conjugal, etc. Aproveite.

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