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Blog do Dr. Alexandre Faisal

Será que cuidar de netos evita mesmo o declínio cognitivo ?

Alexandre Faisal

28/11/2014 22h49

Evitar o declínio das funções cognitivas é uma forma de prevenção da demência. Uma pesquisa australiana avalia se cuidar de netos também evita este declínio cognitivo.

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         A expectativa de vida das pessoas tem crescido ao longo das décadas. Trata-se de excelente constatação, que não deixa de vir acompanhada de alguns fatores de risco e problemas de saúde. Demência é uma delas, sendo que a doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência. No mundo cerca de 7% das pessoas com mais de 65 anos sofrem de demência. Daí o interesse dos profissionais de saúde e pesquisadores nos chamados fatores de proteção, tal como a preservação da capacidade cognitiva.

          Manter a capacidade de pensar, entender, raciocinar melhora a qualidade de vida e atrasa o início da demência. Por sua vez, estudos já mostraram que o engajamento social pode manter a cognição. Mas nenhum deles avaliou o papel dos cuidados dos netos sobre a cognição. E "ser avó" é uma atividade bastante comum e importante para muitas mulheres na pós-menopausa. Pois bem, um estudo australiano avaliou a relação entre a função exercida pelas avós como cuidadoras dos netos e a cognição em 186 mulheres, com idades entre 57 e 68 anos. As mulheres entrevistadas fazem parte de um projeto intitulado the "Women's Healthy Aging Project" que aborda a questão do envelhecimento em mulheres saudáveis. Diversos instrumentos de avaliação cognitiva foram aplicados. Parte dos resultados da pesquisa é surpreendente. Pelo menos para os dogmáticos. Cuidar dos netos se associou com melhor pontuação nas escalas de cognição. Mas as maiores pontuações cognitivas para a maioria dos testes foram vistos nas avós que cuidaram dos netos 1 dia por semana. No entanto, cuidar dos netos durante 5 dias ou mais por semana se associou com resultados muito piores.

           Conclusão, cuidar um pouco dos netos ajuda, mas cuidar muito sobrecarrega e tem impacto negativo para a cognição. Estudos prévios mostram que engajamento em atividades sociais, tais como visitar as amigas e participar de atividades comunitárias, é um fator de proteção para declínio cognitivo. Ser avó em tempo integral parece que não. E segundo dados australianos, 1 em cada 4 mulheres na pós-menopausa consideram os cuidados dos netos como a principal atividade. Ou seja, são basicamente avós. A demanda emocional e o desgaste físico de cuidar de alguns netos rebeldes e incansáveis pode ser a explicação para os achados do estudo. A se confirmar tal descoberta, as vovós no futuro só vão aceitar trabalho em tempo parcial. Bem parcial.

(Burn et al. Role of grandparenting in postmenopausal women's cognitive health: results from the Women's Healthy Aging Project. Menopause 21 (10):1069/1074)

Sobre o Autor

Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.

Sobre o Blog

Acompanhe os boletins do "Saúde feminina: um jeito diferente de entender a mulher" que discutem os assuntos que interessam as mulheres e seus parceiros. Uma abordagem didática e descontraída das mais recentes pesquisas nacionais e internacionais sobre temas como gravidez, métodos anticoncepcionais, sexualidade, saúde mental, menopausa, adolescência, atividades físicas, dieta, relacionamento conjugal, etc. Aproveite.

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