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Blog do Dr. Alexandre Faisal

Leitoras de "50 tons de cinza" apresentam mais comportamentos de risco

Alexandre Faisal

27/02/2015 13h54

 

A série de livros e o filme "50 tons de cinza" encantam o público feminino (masculino também) em muitos países, incluindo o Brasil. Um estudo americano avalia alguns comportamentos de risco das leitoras de "50 tons de cinza".  

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        A série de livros e o filme "50 tons de cinza" ocupam a liderança de livrarias e cinemas em diversas partes do mundo, atraindo homens, e principalmente mulheres. Uma surpresa já que "50 tons de cinza" mostra ficcionalmente uma relação amorosa onde a violência e submissão imperam em detrimento do amor e do companheirismo. E para muitas mulheres, feministas ou não, isso é um bom motivo para não participar da audiência deste fenômeno mundial. Mas será que existe associação entre ler o livro e apresentar comportamentos de risco feminino?. Pois bem este foi o objetivo de um  estudo realizado em Michigan com universitárias, com idades entre 18 e 24 anos. As participantes completaram pela internet um questionário com questões sobre seus comportamentos de saúde, tais como ser submetida a violência física, sexual ou psicológica, incluindo violência pela internet, consumo exagerado de álcool, maior número de parceiros sexuais e até fazer jejum por mais de 24 horas como forma de perder peso. Todas foram questionadas quanto à leitura do livro.

          Vamos aos resultados: das 655 mulheres, cerca de 1/3 havia lido o romance, sendo que 18% delas haviam lido todos os três romances. Após ajustes para idade e raça, na comparação com as mulheres que não leram, as leitoras do primeiro livro da série tinham maior chance de terem convivido com parceiro abusivo,  que gritou, xingou ou enviou mensagens agressivas. Elas também eram mais propensas a relatar períodos de jejum e uso de dietas inadequadas, em algum momento durante a sua vida. A coisa fica pior para aquelas mulheres que leram os 3 livros da série. Na comparação com as não-leitoras, mulheres que leram todas as três novelas eram mais propensas a abusar do consumo do álcool e de ter maior número de parceiros sexuais. Aqui a contagem limite para os autores da pesquisa era de cinco ou mais parceiros sexuais durante a sua vida. A mensagem da pesquisa é que a associação entre os riscos de saúde para as mulheres, incluindo a violência e vitimização e o consumo de "Fifty Shades of Gray" não é fortuita. Eles alertam sobre esta forma de representação da violência contra as mulheres na cultura popular, tal como nos filmes ou nos romances.

         Segundo a pesquisa, trata-se de uma narrativa social mais ampla que, de certo modo, normaliza esses comportamentos, e conseqüentes riscos, para as mulheres. Mas os próprios autores ressaltam uma importante limitação do estudo: eles não sabem se os comportamentos de risco feminino surgiram após a leitura da novela. Se eles já existiam antes do livro, nós até podemos dar o seguinte veredicto: o romance é ruim, mas está longe de ter alguma culpa nesta história.

(Bonomi  et al. Fiction or Not? Fifty Shades is Associated with Health Risks in Adolescent and Young Adult Females. Journal of Women's Health 23( 9), 2014)

Sobre o Autor

Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.

Sobre o Blog

Acompanhe os boletins do "Saúde feminina: um jeito diferente de entender a mulher" que discutem os assuntos que interessam as mulheres e seus parceiros. Uma abordagem didática e descontraída das mais recentes pesquisas nacionais e internacionais sobre temas como gravidez, métodos anticoncepcionais, sexualidade, saúde mental, menopausa, adolescência, atividades físicas, dieta, relacionamento conjugal, etc. Aproveite.

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