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Blog do Dr. Alexandre Faisal

Zika e microcefalia: onde estamos e onde precisamos chegar

Alexandre Faisal

19/02/2016 13h55

 

 

Saiu mais uma interessante publicação sobre a associação entre a infecção pelo vírus Zika e a microcefalia, comentando dados de um caso ocorrido no Nordeste do Brasil. O editorial discute onde estamos e quais são as maiores dúvidas.   

Você apoia a interrupção das gestações cujos fetos apresentam microcefalia ? Clique aqui para votar

        Um editorial recente do "New England Journal of Medicine" discute a epidemia de Zika e sua associação com a microcefalia, com destaque para a descrição de um caso bem documentado de uma mulher oriunda da Europa que se infectou com o vírus da Zika, no nordeste brasileiro e cujo feto desenvolveu mal-formação cerebral e microcefalia.  A presença do vírus foi documentada por microscopia eletrônica e por análise de material genético viral. A gestação foi interrompida (tardiamente) por ocasião do retorno da gestante ao seu país. O caso reforça o possível elo entre a contaminação na gestação pelo vírus e a microcefalia, resultante da malformação cerebral.  O fato é que o Brasil, em particular, mas outros países da América da Sul e Caribe estão vivendo uma epidemia de Zika, com grave repercussão para as gestantes. Para a maioria das pessoas, o quadro clínico é muitas vezes assintomático ou leve e passageiro.

        No entanto, para gestantes admite-se o risco da microcefalia. Mas as dúvidas ainda persistem, segundo os autores do artigo. Primeiro não se sabe qual é o momento de maior risco, nem qual é a magnitude do risco da infecção. Possivelmente, o pior momento é quando a infecção ocorre no início da gestação, considerando que a formação dos órgãos (organogênese) ocorre nos primeiros três meses. Segundo, é preciso desenvolver, urgentemente, um teste rápido, confiável, para uso em larga escala, vez que o teste atual identifica o RNA viral, se mantém positivo, apenas, durante a viremia, que pode ter curta duração. Mais ainda, o teste não pode apresentar reação cruzada com outros vírus, devendo ser específico. Isso é particularmente importante nas áreas onde dengue e chikungunya coexistem. Finalmente, não se sabe se os bebês das gestantes assintomáticas (mas infectadas) ou das gestantes com infecção leve também apresentam risco aumentado de microcefalia.

        Dúvidas a parte, a recomendação é atuar em diferentes níveis, desde a erradicação do mosquito Aedes Aegyptia (o que, infelizmente, até agora, não vem dando bons resultados) até melhorias nos serviços de planejamento familiar, pré-natal e nos casos específicos, cuidados as crianças afetadas. Isso para não falar de outro assunto polêmico que é a interrupção legal das gestações cujos fetos são malformados.

(Rubin, Greene, Baden.  Zika Virus and Microcephaly. February 10, 2016. NEJM.org.)

 

Sobre o Autor

Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.

Sobre o Blog

Acompanhe os boletins do "Saúde feminina: um jeito diferente de entender a mulher" que discutem os assuntos que interessam as mulheres e seus parceiros. Uma abordagem didática e descontraída das mais recentes pesquisas nacionais e internacionais sobre temas como gravidez, métodos anticoncepcionais, sexualidade, saúde mental, menopausa, adolescência, atividades físicas, dieta, relacionamento conjugal, etc. Aproveite.

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