Arrependimento com preservação de óvulos não é incomum
Em 2012, a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva deixou de considerar o congelamento de ovos como um procedimento "experimental" para mulheres inférteis ou mulheres diagnosticadas com câncer. No entanto, ela deixou claro que a comercialização dessa tecnologia com o propósito de adiar a gravidez poderia dar falsas esperanças às mulheres, encorajando-as a adiar a gravidez. O que se observou recentemente foi um aumento do uso da técnica por mulheres sem problemas de infertilidade que buscam a preservação da fertilidade por indicações sociais: falta de parceiro, objetivos acadêmicos ou profissionais, etc. Um interessante estudo realizado na University of California de São Francisco com 201 mulheres que tiveram seus oócitos removidos cirurgicamente e congelados no período de 2012 até 2016 procurou avaliar se havia algum indício de arrependimento. Todas participantes haviam sido submetidas ao procedimento porque optaram por atrasar a gravidez e não por infertilidade ou diagnóstico de câncer. O questionário aplicado avaliou também questões como suporte recebido da equipe, percepção do uso do oócitos e perspectivas sobre maternidade. Elas tinham idades entre 27 e 44 anos, sendo 80% graduadas e com salários superiores a US 100 mil dólares ao anos.
Os resultados surpreendem. A grande maioria, ou 89%, das 201 mulheres que responderam à pesquisa disseram estar contentes com o procedimento que permitia maior controle de suas vidas reprodutivas, ainda que nunca viessem a usá-los. No entanto, 49% revelaram algum pesar pela decisão de se submeter ao procedimento. Destas, cerca de dois terços relataram arrependimento leve e o restante relatou arrependimento moderado a grave. A pesquisa infelizmente não esclarece porquê. Mas entre as possibilidades estão a questão do suporte emocional e das expectativas pouco realistas. Por exemplo, 13 das mulheres, com idades entre 34 e 40 anos, estimaram a probabilidade de ter um bebê com seus ovos congelados em 100%, uma estimativa altamente inflacionada. O fato é que não há dúvidas sobre a eficácia do congelamento de ovos em mulheres saudáveis. Segundo estudos ela varia de cerca de 9% a 24%. Mas nem todas mulheres entendem isso ou recebem a informação adequada. Outros fatores associados ao arrependimento foram o menor número de óvulos criopreservados, a baixa expectativa de sucesso do procedimento com a obtenção de gravidez futura e a percepção da inadequação de apoio emocional durante o processo de congelamento.
A conclusão da pesquisa é que é preciso melhorar a qualidade das informações e suporte emocional para as mulheres que se submetem ao congelamento de óvulos. Isso ajudaria a minimizar o arrependimento. Mas convenhamos são recomendações que servem para todas as mulheres e homens que precisam de assistência médica.
(Greenwood et al. To freeze or not to freeze: decision regret and satisfaction following elective oocyte cryopreservation. Fertility and Sterility Vol. 109, No. 6, June 2018)
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