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Blog do Dr. Alexandre Faisal

Apenas uma em cada 4 gestantes consegue parar de fumar na gestação

Alexandre Faisal

17/05/2019 10h44

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A retomada da discussão sobre a diminuição da taxação do cigarro comercializado legalmente no país esteve em pauta recentemente. Trata-se ainda de estudos preliminares, mas despertou à atenção da mídia, profissionais de saúde, juristas e do cidadão interessado na pauta. De fato, práticas que podem promover (ou reduzir) o consumo de tabaco mobilizam as pessoas. Felizmente no Brasil o número de fumantes vem caindo ao longo das décadas. Trata-se do resultado de um conjunto de ações incluindo uma forte e persistente campanha na mídia aliada à legislação restritiva ao consumo do tabaco. No entanto, muitas pessoas ainda tem enorme dificuldade em parar de fumar. Dentre elas, gestantes. Mesmo sabendo que o tabagismo é responsável por até 8% dos partos prematuros, 19% dos nascimentos com baixo peso e 7% da síndrome da morte súbita do lactente. Apesar disso, gestantes tem dificuldade em parar. Mas, por outro lado, a gestação é momento oportuno para tentar fazê-lo. Talvez o melhor momento em toda a vida da mulher. A mamãe sabe que reduzir a intensidade de exposição ao fumo traz benefícios para ela e, sobretudo, para seu lindo bebe que está para nascer. Quanto menos ela fumar e quanto mais cedo ela para, melhor para ele.

Estudo internacional indica que cerca de 40% das gestantes fizeram pelo menos uma tentativa de parar de fumar, mas apenas 50% teve sucesso nesta tarefa. E como será isso no Brasil?. Ótima questão que foi respondida por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas e Federal do RGS que procuraram estabelecer a prevalência e fatores associados à cessação de tabagismo na gravidez. Elas analisaram dados de 598 mulheres que haviam dado à luz num período de até 48 horas, entre 01/01 e 31/12/2013. O resultado mais interessante mostra que não é fácil para de fumar. Mesmo na gravidez. A prevalência de cessação do tabagismo foi de 25%. E olha que é possível que muitas mães tenham sub-relatado o consumo de tabaco já que sabe dos efeitos negativos do tabaco para o bebê e algumas mães podem ter omitido esta informação por vergonha ou culpa. Mães com idade entre 13 e 19 anos, com maior renda familiar, maior escolaridade, maior número de consultas de pré-natal e que não haviam fumado na gestação anterior tiveram mais sucesso na interrupção. Alguns resultados são esperados já que maior nível socioeconômico reflete melhores condições de informação e de conhecimento parar interromper o tabagismo. Do mesmo modo, frequentar o pré-natal é sempre uma chance de se conscientizar dos perigos do consumo de tabaco na gravidez. Mais consultas de pré-natal duplicaram a chance de parar de fumar. O estudo tem ainda um dado muito curioso: ele mostra que 56% das mulheres tentaram parar de fumar e 78% ficaram pelo menos sete dias consecutivos sem fumar entre os seis meses anteriores à gestação e o pós-parto imediato. O que significa que uma parte significativa destas mulheres estava tentando para valer. Mas , na verdade, não conseguiram. A conclusão do estudo é que apesar de a gestação ser um momento propício à interrupção do tabagismo, isso na prática não ocorre. Ou pelo menos não ocorre do jeito que gostaríamos.

A mensagem final é que são necessárias intervenções continuadas priorizando gestantes fumantes, principalmente se elas forem de estratos socioeconômicos mais baixos uma sugestão dos autores da pesquisa é reforçar com a equipe de saúde, sobretudo médicos e enfermeiros, uma ação intensa e repetida na promoção do abandono do tabagismo em todo e qualquer momento em que a gestante estiver no serviço de saúde. E até após o parto, nas consultas de rotina sobre imunização e nas consultas de puericultura. As campanhas de mídia antitabagismo continuam bem vindas. A luta contra o tabaco parece ganha, mas não chegou ao seu final. Portanto a luta continua. Os bebês que estão por vir ao mundo agradecem.

(Dias-Damé et al. Cessação do tabagismo na gestação: estudo de base populacional. Rev Saude Publica. 2019;53:3.)

Sobre o Autor

Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.

Sobre o Blog

Acompanhe os boletins do "Saúde feminina: um jeito diferente de entender a mulher" que discutem os assuntos que interessam as mulheres e seus parceiros. Uma abordagem didática e descontraída das mais recentes pesquisas nacionais e internacionais sobre temas como gravidez, métodos anticoncepcionais, sexualidade, saúde mental, menopausa, adolescência, atividades físicas, dieta, relacionamento conjugal, etc. Aproveite.

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