Blog do Dr. Alexandre Faisal http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br Acompanhe os boletins do "Saúde feminina: um jeito diferente de entender a mulher" que discutem os assuntos que interessam as mulheres e seus parceiros. Tue, 02 Feb 2021 15:44:02 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Apenas 2 em cada 10 gestantes deprimidas recebem diagnóstico de depressão http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2021/02/02/apenas-2-em-cada-10-gestantes-deprimidas-recebem-diagnostico-de-depressao/ http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2021/02/02/apenas-2-em-cada-10-gestantes-deprimidas-recebem-diagnostico-de-depressao/#respond Tue, 02 Feb 2021 15:44:02 +0000 http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/?p=1248

Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a gestação não garante o bem-estar emocional das mulheres. Estar grávida não torna as mulheres imunes à depressão, ansiedade e outros problemas emocionais. Estudos indicam que depressão na gestação é tão ou mais comum quanto à depressão em outros momentos da vida da mulher. Alguns fatores, é claro, se associam ou agravam este risco: gestação não planejada, falta de suporte social, história de depressão prévia à gestação, violência doméstica, etc. Um problema adicional é que muitas gestantes deprimidas não chegam a receber o diagnóstico do problema e, consequentemente, não recebem, também, o tratamento adequado. E existem opções de tratamento tais como a psicoterapia e, com mais cautela, uso de medicamentos. Um estudo nacional estima a porcentagem de gestantes deprimidas que não receberam o diagnóstico de depressão numa consulta médica recente (últimos 30 dias).

Os pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo usaram dados de 22.445 mulheres em idade reprodutiva da Pesquisa Nacional de Saúde do Brasil (PNS 2013). Dentre as participantes, 800 relataram estar grávidas. Elas responderam o “Patient Health Questionnaire-9” (PHQ-9), um instrumento de avaliação de depressão e questionário com dados sociodemográficos, obstétricos e clínicos. A classificação do subdiagnóstico da depressão antenatal foi feita por meio da comparação entre os resultados obtidos na pergunta autorreferida que avaliava o diagnóstico clínico de depressão e os resultados do PHQ-9. Gestantes com suspeita de depressão no PHQ-9 (escore > 8) e com resposta “Não” na questão clínica foram classificadas como subdiagnóstico de depressão antenatal. Alguns resultados impressionam. A prevalência de subdiagnóstico de depressão antenatal foi de 82,3%. Ou seja, menos de 2 em 10 gestantes deprimidas recebem o adequado diagnóstico de depressão. Outros dados interessantes mostram o impacto das desigualdades nos cuidados de saúde. Gestantes de etnia não branca e com ensino fundamental completo tinham maior risco de serem subdiagnosticadas de depressão antenatal na comparação com gestantes brancas e com maior nível de escolaridade.

A mensagem final do artigo é que profissionais de saúde devem estar atentos ao sério problema da depressão na gravidez, que tem grandes impactos para a mãe e para a própria gestação. E parte desta atenção deve ser direcionada as desigualdades sociais, tão típicas do nosso Brasil.

(Faisal-Cury et al. Prevalence and associated risk factors of antenatal depression underdiagnosis: A population-based study. Int J Gynaecol Obstet . 2021 Jan 14. doi: 10.1002/ijgo.13593)

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Terapia mente-corpo reduz o estresse de gestantes? http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2021/01/11/terapia-mente-corpo-reduz-o-estresse-de-gestantes/ http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2021/01/11/terapia-mente-corpo-reduz-o-estresse-de-gestantes/#respond Mon, 11 Jan 2021 18:26:05 +0000 http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/?p=1240

 

 

A gravidez, via de regra, é um momento mágico na vida da mulher. Apesar do grande número de mudanças (biológicas, psicossociais, ambientais e socioeconômicas), as mulheres e seus parceiros experimentam frequentemente sensação de plenitude e bem-estar. Mas adaptações, física, mental e social, são necessárias. E isso gera, por si só, estresse. Estudos sugerem que o estresse crônico e persistente pode ser danoso ao organismo. Como o uso de medicamentos como ansiolíticos e antidepressivos tem restrições em função dos riscos ao feto e da própria relutância das gestantes, existe um enorme interesse em terapias alternativas. Intervenções corpo-mente (MBIs) constituem uma parte importante do uso geral de terapias não farmacológicas, que se concentram nas interações entre o cérebro, mente, corpo e comportamento e visam aumentar a capacidade da mente de interferir nas funções e sintomas corporais. Será que esta terapias funcionam na redução do estresse em grávidas?.

Uma revisão sistemática conduzida por pesquisadores da Jilin University na China, procurou esclarecer esta importante questão. Foram incluídos na análise 28 ensaios clínicos sobre intervenções mente-corpo na redução do estresse que juntos somaram 1944 participantes. O resultado mais importante mostra houve melhora do estresse pré-natal de mulheres grávidas nos grupos de intervenções mente-corpo na comparação com os grupos controle . As análises indicaram que todos os tipos de intervenções mente-corpo, incluindo intervenção mindfulness, terapia cognitivo-comportamental, técnicas de relaxamento e ioga foram benéficos para o estresse pré-natal. Ambos os grupos e formatos individuais de intervenções mente-corpo foram eficazes. Quanto à duração da terapia mente-corpo, as intervenções de 4 a 8 semanas pareceram ser a melhor escolha. Outro dado positivo, as intervenções mente-corpo também reduziram depressão antenatal. Os autores concluem afirmando que as intervenções mente-corpo são abordagens promissoras para a redução do estresse em mulheres grávidas. No entanto, os resultados devem ser interpretados com cautela devido à alta heterogeneidade e viés de publicação (onde apenas resultados positivos são, de fato, publicados).

Uma grande limitação neste tipo de estudo é a impossibilidade/dificuldade de cegamento das participantes e dos próprios pesquisadores sobre a participação em um dos grupos (da terapia-mente corpo ou do grupo controle). Neste caso, a gestante e pesquisador tendem a avaliar favoravelmente a terapia, aumentando, artificialmente, a efetividade intervenção que está sendo avaliada. Isso reforça a necessidade de novos estudos de alta qualidade para verificar os resultados. E vamos torcer para que estas novas pesquisas confirmem as nossas melhores expectativas. Até lá anamasté.

(Guo et al. Mind–body interventions on stress management in pregnant women: A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. J. Adv. Nurs. 2020;00:1–22)

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O que é um país “family-friendly”? http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/12/28/o-que-e-um-pais-family-friendly/ http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/12/28/o-que-e-um-pais-family-friendly/#respond Mon, 28 Dec 2020 16:12:46 +0000 http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/?p=1233

Na sua opinião, o Brasil as políticas públicas são suficientes para favorecer os cuidados dos filhos pequenos pelos pais?  Clique para votar

O nascimento de um filho é talvez o evento mais marcante da vida das pessoas. A chegada do bebê transforma vida dos casais sob diversos aspectos: econômicos, sociais, pessoais e sexuais. Novos papéis se estabelecem na rotina do marido e mulher passam a ser também papais e mamães. Como isso impacta as pessoas e como elas enfrentam estas mudanças varia enormemente entre os envolvidos. A experiência de ser pai e mãe, pode variar, em amplo espectro, indo de algo fantástico e maravilhoso a desesperador e insuportável. No geral é sempre uma vivência de muito trabalho. De cuidados contínuos com o bebê, em particular para a mulher. Daí que existem políticas públicas que podem levar em conta este delicado momento de vida das famílias. Estas políticas permitem que os pais possam conciliar o trabalho e os compromissos domésticos, com resultados positivos para a criança. Podemos chamar estas leis de “políticas favoráveis ​​à família”. Dentre estas práticas “family-friendly”, estão incluídas a licença parental remunerada, apoio à amamentação, creche de alta qualidade e educação pré-escolar a preços acessíveis.

Um relatório da UNICEF analisou as políticas favoráveis ​​à família em 41 países de renda alta e média usando quatro indicadores: a duração da licença remunerada disponível para as mães; a duração da licença remunerada reservada especificamente para os pais; a proporção de crianças menores de três anos em creches; e a proporção de crianças entre a idade de três anos e a idade escolar obrigatória em creches ou pré-escolas. Os resultados mostram que Suécia, Noruega e Islândia são os três países mais amigos da família. Do outro lado da lista, ou seja, os países menos favoráveis ao desempenho das famílias são o Chipre, Grécia e Suíça. A presença da Suíça deve causar espanto em muitos brasileiros que imaginam o país como lugar de muita ordem, dinheiro e chocolate. Dez dos 41 países não têm dados suficientes sobre matrículas em creches para serem classificados. Uma limitação do relatório é a ausência de informações atualizadas para comparar a qualidade dos centros de cuidados infantis ou as taxas e políticas de amamentação de alguns países. Fato parcialmente semelhante para a nossa situação, aqui no Brasil.

Políticas públicas deste tipo envolvem diversos aspectos: alocação de recursos, gestão eficiente, evidência dos benefícios para o bebê e casal e cultura de equidade e preservação de direitos individuais, em particular, da mulher e da criança. A conclusão do relatório é que há espaço para os países mais ricos do mundo melhorarem suas políticas familiares. Alguém duvida que a conclusão serve para o Brasil também?.

(Chzhen, Gromada & Rees. Are the world’s richest countries family friendly? Policy in the OECD and EU.  www.unicef-irc.org. © 2019 United Nations Children’s Fund (UNICEF).)

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Licença paternidade: conheça o ranking dos países apoiadores http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/12/04/licenca-paternidade-conheca-o-ranking-dos-paises-apoiadores/ http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/12/04/licenca-paternidade-conheca-o-ranking-dos-paises-apoiadores/#respond Fri, 04 Dec 2020 14:55:28 +0000 http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/?p=1226

Na sua opinião, quanto tempo deveria durar a licença paternidade?  Clique para votar

Recentemente, a P&G, renomada empresa multinacional, com filial no Brasil, e dona de marcas como Pantene, Gilette e Pampers anunciou que adotará a licença paternidade de 8 semanas, globalmente. A medida vale para todos os tipos de pais: biológicos, adotivos, casais homo ou heterossexuais. O modo de uso deste benefício pode ser definido pelo próprio pai: continuadamente ou em intervalos até os 18 meses de vida da criança. Diversos estudos mostram o efeito positivo da participação paterna nos cuidados do recém-nascido/criança tanto para a relação pai-filho/filha quanto para a relação do casal. Os primeiros meses de vida (para não dizer o primeiro ano de vida), são particularmente trabalhosos para a mulher, com carga intensa de cuidados, diuturnos, muitas vezes, dificultados pela falta de experiência no trato com o bebê. Algumas mulheres podem eventualmente contar com suporte das próprias mães ou de parentes, mas outras contam apenas consigo próprias. Neste caso, o papel do marido/companheiro é fundamental. Ele pode assumir algumas das tarefas de cuidados aliviando a sobrecarga materna. O papai pode trocar faldas, ninar o bebê, preparar a mamadeira, acordar á noite ou simplesmente lavar a louça e limpar a casa. No final das contas teremos uma mamãe mais descansada e disposta para cuidar da prole ou de si própria.

Estudos mostram claramente que o suporte social, e em particular, do parceiro é um importante fator protetor de depressão pós-parto, um problema que afeta 13% das puérperas. Parabéns para a empresa que está na direção de muitas políticas públicas de saúde em diversos países. Pena que não em todos. Um relatório de 2019 da Unicef, que analisou licenças paternidade em 41 dos países mais ricos do mundo, descobriu que apenas 26 ofereciam licença paternidade remunerada, enquanto 40 tinham licença remunerada para as novas mamães. No geral, licença paternidade remunerada (um período de ausência oferecido a novos pais) é geralmente mais curta do que a licença-maternidade, mas, por outro lado, costuma ser mais bem paga. Algo que é, de fato, complicado de se entender e aceitar. Mas este cenário está mudando e há cada vez mais reconhecimento da importância da licença paternidade. Por exemplo, o número de países com cláusulas legais de licença paternidade, globalmente, aumentou de 40 para 94, entre 1994 e 2015, segundo a Organização Internacional do Trabalho.

E que tal conhecer a lista dos países mais generosos com os papais?. De acordo com o relatório do Unicef, no topo desta lista de países amigáveis, que pagam licenças paternidade estão o Japão, a Coréia do Sul, Espanha e Suécia.  E dá para imaginar quem está lá embaixo?.  Os Estados Unidos, único país analisado, entre os países mais desenvolvidos, que não oferece nenhum tipo de licença remunerada para os papais. Mas, como diz um ditado popular, nada é tão ruim que não possa piorar. Os Estados Unidos também não oferecem licença-maternidade. Incrível. Inglaterra e Austrália limitam em 14 dias a licença paternidade. No Brasil, a Constituição Federal prevê licença de cinco dias, período que se inicia no primeiro dia útil após o nascimento da criança. No entanto, se a empresa estiver cadastrada no programa Empresa Cidadã, o prazo será estendido para 20 dias.  Como se vê, se fosse um campeonato de futebol, nós brasileiros seríamos rebaixados.

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Depressão aumenta em 67% o risco de morte em idosos de Florianópolis http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/11/18/depressao-aumenta-em-67-o-risco-de-morte-em-idosos-de-florianopolis/ http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/11/18/depressao-aumenta-em-67-o-risco-de-morte-em-idosos-de-florianopolis/#respond Wed, 18 Nov 2020 15:50:37 +0000 http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/?p=1217

Você sabe reconhecer os sintomas da depressão ? Clique para votar

          Depressão é um grave problema de saúde pública com enorme impacto na qualidade de vida da pessoa. A depressão se associa com diferentes danos à saúde, interação social e prejuízos econômicos. Pode-se imaginar que é um típico problema de cidades grandes onde o estresse é a regra. Mas não é bem assim como mostra um interessante estudo nacional realizado em Florianópolis, cidade que é o sonho de vida de muitos brasileiros. Os pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina e de outras instituições acadêmicas seguiram no período entre 2009 e 2014, 1.391 pessoas, no estudo denominado EpiFloripa Ageing Cohort Study para avaliar o impacto dos sintomas depressivos na mortalidade. A idade dos participantes variou de 60 a 104 anos (média de 70 anos). Os sintomas depressivos foram avaliados por meio da Escala de Depressão Geriátrica e eles avaliaram o intervalo de tempo entre a idade do primeiro contato, e o tempo de término do estudo, que poderia ser a idade do último contato ou o óbito do participante. Questionário avaliou outras variáveis tais como sexo, educação, renda, trabalho remunerado, tabagismo, consumo de álcool, morbidades, uso de medicamentos, atividade física, deficiência, deficiência cognitiva, e índice de massa corporal.

Quanto aos resultados, 23.5% das pessoas apresentavam sintomas depressivos. Mais interessante foi a observação de que indivíduos com sintomas depressivos apresentaram um risco de morrer, ajustado por todas as variáveis, 67% maior na comparação com participantes sem sintomas depressivos. Estes dados reforçam achados de outros estudos internacionais e nacionais. A associação entre gravidade dos sintomas depressivos, incluindo a duração dos mesmos, e risco de mortalidade foi observada também no estudo ELSA, onde havia clara associação tipo dose-resposta entre a duração dos sintomas depressivos e o risco de mortalidade. Essa associação foi parcialmente explicada por deficiências funcionais e doenças físicas, inatividade física e função cognitiva deficiente. No entanto, uma boa notícia: esta relação entre duração da depressão e mortalidade é atenuada por níveis de atividade física atividade e pela melhor função cognitiva. Quanto aos fatores de risco para mortalidade dos idosos dá quase para dizer que não há grandes novidades: qualquer consumo de tabaco se associa com maior risco, enquanto consumo moderado de álcool é protetor se comparado a nenhum consumo de álcool. Tabagismo é outro fator de risco. A atividade física se associou com menor risco de morte no modelo não ajustado.

Outro dado interessante do estudo é a maior ocorrência de depressão entre as mulheres na comparação com os homens. Um fato comum em pesquisas do mundo inteiro. Uma possível explicação para isso reside no fato de que as mulheres são mais propensas a usar os serviços de saúde e, assim, obter um diagnóstico precoce e tratamento adequado. Mas, felizmente, pelo menos para elas, na pesquisa ser mulher não mudou significativamente o risco da mortalidade. Elas devem estar pensando: menos mal. E que isso seja um ótimo estímulo para ficar mais feliz.

(Corrêa et al. Depressive symptoms as an independent risk factor for mortality. Braz J Psychiatry. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/1516-4446-2019-0749)

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Osteoporose: você apresenta risco alto ou baixo? http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/10/26/osteoporose-voce-apresenta-risco-alto-ou-baixo/ http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/10/26/osteoporose-voce-apresenta-risco-alto-ou-baixo/#respond Mon, 26 Oct 2020 19:00:04 +0000 http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/?p=1210

 

Você conhece fatores de risco para osteoporose ? Clique para votar

Você já ouviu falar em osteoporose?. Muitas mulheres jovens não se preocupam com o problema, mas isso está mudando. À medida que as pessoas estão cada vez mais longevas é muito provável que você conheça alguém que sofreu uma fratura associada à osteoporose. Talvez conheça alguém que precisou ficar muito tempo acamada em decorrência de uma queda. O fato é que a osteoporose é um problema de saúde pública, afetando centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, predominantemente a mulher na pós-menopausa. Estima-se que uma a cada três mulheres e um em cada cinco homens com idade superior a 50 anos, em todo o mundo, apresentarão uma fratura osteoporótica. Após uma fratura, há risco de incapacidade de longo prazo, diminuição da qualidade de vida, perda de independência. Familiares das vítimas podem se sobrecarregar com os cuidados ao doente.

Dentre os fatores de risco há fatores genéticos que não podem ser modificados.  De fato, o fator genético é um dos mais importantes determinantes da massa óssea. Mas há fatores de risco modificáveis tais como pouca exposição ao sol, dieta pobre em laticínios e cálcio em geral, sedentarismo, consumo excessivo de álcool e tabagismo. A Fundação Internacional de Osteoporose (International Osteoporosis Foundation – IOF) disponibilizou um instrumento online para cálculo do risco que é muito interessante. A versão em português está disponível no site. Basta acessar riskcheck.osteoporosis.foundantion e fazer sua avaliação.  O dia mundial de combate à osteoporose é celebrado no dia 20 de outubro e é maneira de conscientizar a população sobre o problema.

O ginecologista tem papel fundamental na promoção da saúde óssea da mulher, estimulando não apenas as mulheres mais velhas, na pós-menopausa, mas também as mais jovens, a adotaram comportamento mais saudáveis. Num momento tão complicado como este da pandemia do COVID, onde isolamento social é importante, cabe mencionar que existem modos de manter a atividade física em casa. Finalmente, estudos indicam que a massa óssea adquirida ao longo da vida é fundamental para diminuir risco de osteoporose na terceira idade. Portanto, todo dia é dia de prevenção da osteoporose.

(IOF Risk Check. https://riskcheck.osteoporosis.foundation)

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Farmacêuticos ou médicos prescrevem maior suprimento de contraceptivos ? http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/10/16/farmaceuticos-ou-medicos-prescrevem-maior-suprimento-de-contraceptivos/ http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/10/16/farmaceuticos-ou-medicos-prescrevem-maior-suprimento-de-contraceptivos/#respond Fri, 16 Oct 2020 15:08:21 +0000 http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/?p=1202

Você confia no farmacêutico(a) para a sua prescrição do uso de métodos contraceptivos ? Clique para votar

A taxa de gravidez indesejada nos EUA, no Brasil e muitos outros países é bastante alta. Aproximadamente metade de todas as gestações não são planejadas, um problema que afeta particularmente mulheres mais jovens e com pior status socioeconômico. Existem diversos métodos contraceptivos, eficazes e seguros na prevenção da gravidez indesejada. No entanto, existem barreiras para o uso contínuo e correto destes diferentes métodos. Melhorar o acesso à contracepção, especialmente entre as populações vulneráveis é tarefa complexa que demanda inovação e ousadia. A prescrição de anticoncepcionais por farmacêutico é uma destas estratégias promissoras para aumentar o acesso à contracepção para novas usuárias ou para promover a continuação entre as usuárias atuais. Farmácias geralmente estão bem localizadas nas comunidades, têm horários estendidos em comparação com as clínicas médicas e não requerem agendamento de consultas para suas usuárias. Será que isso de fato funciona?. Será que há diferenças nas quantidades de contraceptivos dispensados por farmacêuticos e médicos ?.

Estas questões foram o tema de uma pesquisa liderada pelo Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Oregon Health & Science University, nos EUA. Eles avaliaram prospectivamente 410 mulheres, de 18 a 50 anos (média de 27 anos), que se apresentaram a farmácias na Califórnia, Colorado, Havaí e Oregon para contracepção hormonal prescrita por um clínico ou farmacêutico entre 30 de janeiro e 1º de novembro de 2019. Elas haviam recebido um tipo de contracepção diretamente de um farmacêutico (n=144) ou por prescrição médica tradicional (n=266). As mulheres que obtiveram contracepção de um farmacêutico eram significativamente mais jovens, com menor escolaridade e menor chance de ter seguro médico na comparação com mulheres com receita médica. Os resultados mais interessantes mostram que farmacêuticos eram significativamente mais propensos a prescrever um suprimento de 6 meses ou mais de contraceptivos do que os médicos (6,9% vs 1,5%) e significativamente menos propensos a prescrever suprimento de apenas 1 mês (29,2% vs 44,4%). As mulheres atendidas por farmacêuticos tinham 3.5 vezes mais chance de receber um suprimento de anticoncepcionais por 6 meses ou mais na comparação com aquelas atendidas por médicos. Os farmacêuticos eram tão propensos quanto os médicos a prescrever um método somente de progesterona para mulheres com uma possível contraindicação ao estrogênio. Ou seja, a prescrição correta não foi diferente entre os dois profissionais. Ótima novidade para as mulheres, no geral, e em particular, para aquelas mais vulneráveis, que não podem contar com acesso amplo aos serviços de saúde. Vale destacar que desde 2016, nos Estados Unidos, 11 estados expandiram o escopo dos farmacêuticos para incluir a prescrição direta de anticoncepcionais hormonais.

O estudo mostra que a prescrição de anticoncepcionais nas farmácias pode contribuir para o uso prolongado dos anticoncepcionais e reduzir interrupções de uso. Parece óbvio: estoque maior de contraceptivos à mão sempre ajuda na manutenção do seu uso. Só não é muito óbvio os motivos que levam médicos, na comparação com farmacêuticos, a fornecerem menor suprimento de contraceptivos. O estudo reflete dados da realidade americana e, portanto, tem que ser contextualizado no caso da comparação com mulheres de outros países, como, por exemplo, do Brasil. Mas tudo indica que aqui, como lá, no caso dos contraceptivos, “mais é menos”. Menos risco de gravidez não planejada.

(Rodriguez et al. Association of Pharmacist Prescription With Dispensed Duration of Hormonal ContraceptionJAMA Network Open. 2020;3(5):e205252. doi:10.1001/jamanetworkopen.2020.5252).(

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Aplicativo de controle do ciclo menstrual revela detalhes da saúde feminina http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/10/05/aplicativo-de-controle-do-ciclo-menstrual-revela-detalhes-da-saude-feminina/ http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/10/05/aplicativo-de-controle-do-ciclo-menstrual-revela-detalhes-da-saude-feminina/#respond Mon, 05 Oct 2020 15:14:47 +0000 http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/?p=1194

 

Você usa (ou usaria) um aplicativo para controle do ciclo menstrual ? Clique aqui para votar

O ciclo menstrual é um indicador chave da saúde e da qualidade de vida das mulheres em idade reprodutiva. Muitas mulheres não sabem, mas o adequado funcionamento do sistema endócrino reprodutivo se associa com saúde sexual e reprodutiva, saúde dos ossos e coração e até câncer. Ela ainda afeta a fertilidade, menopausa, o padrão de exercício e alimentar. Umas das possibilidades recentes de avaliação da menstruação é o uso de aplicativos móveis de monitoramento do ciclo menstrual. Eles estão cada vez mais na moda e muitas mulheres já aderiram ao seu uso que permite a avaliação de experiências e comportamentos de saúde menstrual ao longo do tempo. Até então, muitas pesquisas na área se baseiam em número limitado de participantes e de informações sobre seus ciclos menstruais. Nem sempre a qualidade da informação sobre ciclos menstruais, nestas pesquisas, é confiável.

Uma publicação da NPJ Digital Medicine mostra os resultados de análises de um grande banco de dados de observações rastreadas pelo usuário do aplicativo Clue da companhia BioWink GmbH. São dados de mais de 378.000 usuárias, habitantes de todos os continentes, e de 4,9 milhões de ciclos naturais disponíveis para cruzamento de informações relevantes de saúde. Por exemplo, as relações entre a variabilidade da duração do ciclo e os sintomas qualitativos autorrelatados por cada uma das usuárias do aplicativo. As mulheres tinham idades entre 21 e 33 anos (média de 25,5) e o número médio de ciclos rastreados por usuária foi 12,9, com um intervalo médio entre ciclos de 29,7 dias e duração média do fluxo menstrual de 4,1 dias. Os autores usaram um critério para classificar as mulheres: a diferença da duração entre ciclos (usando a mediana) superior ou inferior a 9 dias. Assim dois grupos foram comparados: mulheres com diferenças importantes no padrão menstrual (7.7% das participantes) e mulheres com ciclos mais regulares (92.3% das participantes). Alguns resultados são bem interessantes. As mulheres no grupo de alta variabilidade do ciclo menstrual relatam sintomas relacionados à dor de forma mais imprevisível. Do mesmo modo, esta usuária tem maior chance de apresentarem dores de cabeça e mamas sensíveis em pelo menos 95% de seus ciclos. Um risco que varia de 66% a 71% maior na comparação com mulheres com ciclos regulares. A ocorrência de diversos outros sintomas e queixas pode ser comparada entre os grupos de mulheres acessando os registros do banco de dados. Segundo os autores, os sintomas identificados como associados aos padrões menstruais podem ser úteis para médicos e usuárias para prever a variabilidade do ciclo a partir dos sintomas ou como indicadores de saúde. Uma destas aplicações seria para diagnóstico de endometriose.

A conclusão da publicação não é nada humilde, mas afirma que este tipo de descoberta mostra o potencial de dados longitudinais de alta resolução para melhorar a compreensão da menstruação e da saúde da mulher como um todo. Um detalhe: este tipo de aplicativo já é o segundo aplicativo mais popular para meninas adolescentes e o quarto mais popular para mulheres adultas. Como se vê, os autores têm motivos para estarem tão confiantes e orgulhos.

(Kathy Li et al. Characterizing physiological and symptomatic variation in menstrual cycles using self-tracked mobile-health data. npj Digital Medicine (2020) 3:79 ; https://doi.org/10.1038/s41746-020-0269-8)

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Pacientes e ginecologistas tem percepções diferentes sobre contraceptivos http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/09/17/pacientes-e-ginecologistas-tem-percepcoes-diferentes-sobre-contraceptivos/ http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/09/17/pacientes-e-ginecologistas-tem-percepcoes-diferentes-sobre-contraceptivos/#respond Thu, 17 Sep 2020 12:27:04 +0000 http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/?p=1185

Qual seu método contraceptivo preferido ? Clique aqui para votar

A escolha do método ideal de contracepção não é simples. Ela deve levar em conta muitos aspectos, incluindo estilo de vida, fatores de risco, benefícios além da contracepção e claro, eficácia. No Brasil, três em cada quatro mulheres usam algum tipo de método contraceptivo. Porém, nas regiões mais pobres do país, a prevalência relatada de uso de contraceptivo é de 62%, sendo que em muitos casos isso decorre do acesso aos serviços de planejamento familiar. Conhecer opiniões de profissionais de saúde e de mulheres sobre os diferentes aspectos dos contraceptivos é passo fundamental para atender adequadamente as mulheres. Pois bem, este foi o objetivo do estudo Thinking About Needs in Contraception (TANCO) – Pensando nas Necessidades em Contracepção, realizado no Brasil. O conceito do estudo foi elaborado em conjunto com uma organização de pesquisa de mercado global e foi patrocinado por uma conhecida multinacional farmacêutica. Estudo similar foi realizado em outros 11 países. Trata-se de uma pesquisa quantitativa online que contou com ginecologistas com pelo menos 2 anos de experiência clínica e mulheres entre 18 e 49 anos que foram convidadas a participar da pesquisa por seus próprios médicos. A pesquisa explorou o conhecimento e o uso de métodos contraceptivos, a satisfação com o método atual, e o interesse em receber mais informações sobre todos os métodos.

Vamos aos resultados: 73% das mulheres estavam usando métodos de curta duração (por exemplo, pílula) e 9% estavam usando um método de longa ação (Dispositivo intrauterino- DIU). 62% das mulheres estavam interessadas em receber mais informações sobre todos os métodos. Um dado interessante é a clara divergência de percepção de médicos e pacientes. Por exemplo, 50% das mulheres que tomavam pílulas alegaram esquecimento de uma pílula nos últimos 3 meses. 22% dessas mulheres disseram ter esquecido de tomar 3 ou mais vezes, neste período. Já para os médicos, apenas 36% das suas pacientes esqueceram de tomar uma pílula nos últimos 3 meses.  Quanto ao DIU, 69% das mulheres disseram que considerariam o uso de método de longa duração (DIU ou implante) se recebessem informações mais abrangentes sobre esse método enquanto para os médicos este número seria de 38%.

A conclusão é que há espaço para mais informação, em particular para os métodos de longa duração. Neste momento, os profissionais de saúde tendem a subestimar o interesse das mulheres em receber informações sobre a contracepção em geral e, mais especificamente, sobre os métodos de longa duração. Como se vê, as brasileiras estão, de modo geral, satisfeitas com suas escolhas. Mas poderiam estar ainda mais se o leque de informações for ampliado. Acho que ninguém duvida que feliz com o método contraceptivo é parte do caminho para a felicidade geral da mulher.

(Machado et al. Different Perceptions among Women and Their Physicians Regarding Contraceptive Counseling: Results from the TANCO Survey in Brazil. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia/RBGO Gynecology and Obstetrics. 2020; 42(05), 255-265)

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Toxina botulínica pode ser alento para mulheres que sofrem com vulvodínia http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/08/28/toxina-botulinica-pode-ser-alento-para-mulheres-que-sofrem-com-vulvodinia/ http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/2020/08/28/toxina-botulinica-pode-ser-alento-para-mulheres-que-sofrem-com-vulvodinia/#respond Fri, 28 Aug 2020 18:06:08 +0000 http://dralexandrefaisal.blogosfera.uol.com.br/?p=1180

 

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Você já deve ter ouvido falar. Pode ser até que conheça quem padece deste mal ainda pouco definido: vulvodínia. Trata-se de um distúrbio doloroso que afeta até 15% das mulheres, em geral na pré-menopausa. Uma variante do problema é a vestibulodínia provocada, que é caracterizada por dor intensa ao toque ou pressão da mucosa ao redor da abertura vaginal. Dá para imaginar que a dor tenha consequências negativas na esfera da sexualidade, comprometendo no médio e longo prazo a qualidade de vida das mulheres (e eventualmente dos respectivos parceiros/parceiras sexuais). Não se sabe exatamente a causa da vestibulodínia mas admite-se alterações fisiopatológicas em três sistemas interdependentes: inflamação neurogênica com sensibilização no tecido vestibular, hiperatividade nos músculos do assoalho pélvico e alterações nas vias regulatórias da dor do sistema nervoso central.

O principal tratamento é a fisioterapia para atenuar a hiperatividade dos músculos do assoalho pélvico. Mas, recentemente, o uso da toxina botulínica (TB) tem sido preconizado. Será que funciona?. Pesquisadores suecos do Karolinska Institutet Danderyd Hospital de Stockholm, e do Center for Clinical Research, da Uppsala University realizaram um ensaio clínico duplo-cego, placebo-controlado e randomizado de 50 unidades de toxina botulínica A (44 mulheres) ou placebo (44 mulheres) injetado nos músculos bulbocavernosos, duas vezes, com intervalo de 3 meses, em mulheres com vestibulodínia provocada. O desfecho primário foi a dor no ato sexual (dispareunia) autorreferida ou dor ao uso de tampão em uma escala visual analógica (de 0 a 100, onde 100 é a dor máxima).  O principal resultado foi uma redução da dor (não significativa estatisticamente) no grupo da TB comparado ao grupo placebo. Outros resultados promissores incluíram uma diminuição significativa da dor na inserção de absorvente ou tampão e menores níveis pressóricos na manometria vaginal (sim, eles mediram o tônus vaginal). Por outro lado, não forma observadas mudanças foram na função sexual, ainda que houve aumento significativo no número de mulheres que “tentaram manter a relação sexual vaginal” no grupo da TB. Finalmente, e muitas mulheres devem ter se perguntado sobre isso: nenhum evento adverso grave foi relatado.

Ainda bem. A conclusão não é lá animadora, mas sinaliza alguma perspectiva para o tratamento da vestibulodínia. E como todos sabemos, a sexualidade humana é bem enigmática e complexa, de modo que toda esperança de tratamento para os muitos problemas sexuais é sempre bem-vinda.

(Haraldson  P et al. Botulinum Toxin A as a Treatment for Provoked Vestibulodynia A Randomized Controlled Trial. Obstet Gynecol 2020;136:524–32)

 

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