Alimentos ultraprocessados aumentam risco de depressão
Alexandre Faisal
05/09/2019 11h56
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Em 2016, a depressão foi um uma das cinco principais causas de anos vividos com incapacidade e de acordo com a OMS, a primeira causa de carga de doenças no mundo. A etiologia da depressão implica interações complexas entre vários fatores, incluindo fatores sociais, psicológicos e biológicos. Será que o tipo de dieta, em particular o consumo de ultraprocessados, pode ter alguma associação com a ocorrência de depressão?. O fato é que o consumo de alimentos ultraprocessados (CAUP) aumentou nas últimas décadas nos países ocidentalizados. Este tipo de alimento é processado para assegurar transportabilidade e maior vida de armazenamento (além de favorecer a digestão), mas são ricos em energia e contém muito gordura, açúcar e sal. Além disso o CAUP é pobre em micronutrientes. Estudos recentes mostram associação entre CAUP e obesidade, hipertensão , distúrbios metabólicos e câncer. Até recentemente nenhum estudo havia avaliado a associação com transtornos mentais. Mas agora há e o resultado impressiona.
A coorte francesa NutriNet-Santé acaba de publicar os resultados da investigação entre a proporção de CAUP (% CAUP) na dieta e sintomas depressivos incidentes (ou seja casos novos de depressão). A amostra incluiu 20.380 mulheres e 6350 homens (com idades entre 18 e 86 anos), sem sintomas depressivos, segundo classificação de instrumento validado para este fim. A proporção de CAUP na dieta foi calculada para cada indivíduo usando a classificação NOVA, elaborado por brasileiros, aplicada às ingestões alimentares coletadas por registros repetidos de 24 horas. Após seguimento médio de 5,4 anos, foram identificado 2221 novos casos de sintomas depressivos. Após análises que controlaram o efeito de outros fatores (os chamados fatores de confusão que enviesam a estimativa real de associação) observou-se aumento do risco de sintomas depressivos para cada aumento de % de CAUP na dieta. Por exemplo, após ajustar por características sociodemográficas, índice de massa corporal e fatores de estilo de vida, o risco de depressão foi 21 % maior para um aumento de 10% no CAUP. A associação foi mais evidente para consumo de bebidas, molhos e gorduras.
A explicação pode estar na alteração da microbiota intestinal decorrente do consumo direto deste tipo de alimento ou por componentes não nutritivos, em especial por emulsionantes, que fazem parte do processamento alimentar. Especula-se a ocorrência de mecanismo inflamatório intestinal como parte da cadeia causal entre alimentos ultraprocessados e depressão. Final da história: nossa dieta pode ter participação na nossa tristeza com a vida. Comer adequadamente pode impedir alguns casos de depressão e promover saúde mental. Os mais otimistas vão afirmar que se alimentar adequadamente vai te ajudar a pelo menos manter a forma.
(Adjibade et al. Prospective association between ultra-processed food consumption and incident depressive symptoms in the French NutriNet-Santé cohort. BMC Medicine (2019) 17:78)
Sobre o Autor
Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.
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