Peso da mulher ao nascer se associa com risco de câncer de mama
Alexandre Faisal
21/11/2019 11h26
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Conhecer os fatores de risco para o câncer de mama é fundamental para a elaboração de estratégias preventivas. Admite-se que um destes fatores é o peso ao nascer. Estudos demonstram que o peso ao nascer está associado positivamente ao nível de estrogênio na gravidez. E, portanto, o peso ao nascer pode ser uma medida indireta mas adequada da exposição intrauterina aos estrógenos maternos, que por sua vez são importantes na etiologia do câncer de mama. Outro fato é que o peso ao nascer está associado positivamente ao tamanho corporal da infância e da idade adulta, incluindo altura e peso, que por sua vez se associam ao risco de câncer de mama. O link entre peso ao nascer, tamanho corporal e câncer de mama na pós-menopausa não era, no entanto, bem conhecido. Mas agora pesquisadores de diversas universidades americanas liderados pela Universidade de Indiana descobriram como isso funciona.
A pesquisa publicada no periódico Internacional Journal of Cancer procurou estimar o risco de câncer de mama na pós-menopausa em relação ao peso ao nascer e índice de massa corporal em quatro momentos ao longo de 25 anos de idade adulta, avaliando se mudanças de peso e altura ao longo da vida adulta podem ser os mediadores da ligação entre peso ao nascer e risco de câncer de mama. Eles usaram dados de uma grande coorte americana: o Women's Health Initiative (WHI). Participaram 70.397 mulheres na pós-menopausa (com idades entre 50-79 anos) sem câncer de mama no início do estudo nos anos compreendidos entre 1993 e1998. Essas mulheres foram acompanhadas até 25 anos. O peso ao nascer e peso nas idades de 18, 35 e 50 anos foram obtidos a partir do autorrelato das participantes. Os resultados mais importantes mostram que as mulheres cujos "pesos ao nascer" foram inferiores a 2.700 kg na comparação com mulheres com "pesos ao nascer" entre 2.700 e 3.600 kg tinham 12% menos risco de câncer de mama. A altura e o peso na idade adulta foram mediadoras (44% e 21%, respectivamente) desta relação. Assim, o tamanho corporal na infância ou na adolescência, especialmente em relação à altura, foi identificado como mediador da redução no risco. Dados da literatura já mostravam que sobrepeso/obesidade feminina se associava ao aumento do risco de câncer de mama, mas agora, os autores documentaram também a importância do peso ao nascer e do ganho de peso ao longo da vida. Os autores não observaram uma relação entre peso ao nascer >3.600 e câncer de mama, o que contradiz a hipótese do estrógeno no ambiente intrauterino.
Eles aventam algumas possibilidades para as diferenças de resultados entre os estudos mas defendem que a chave para a prevenção do câncer de mama é alcançar e manter um peso saudável durante a vida adulta. Muitas mulheres devem estar celebrando fato de terem nascido com menos de 3 kg e ao mesmo tempo serem magrinhas e principalmente baixinhas.
(Luo et al. Birth weight, weight over the adult life course and risk of breast cancer. Int. J. Cancer (2019))
Sobre o Autor
Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.
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