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Abuso na primeira relação sexual afeta 6.5% das mulheres americanas

Alexandre Faisal

19/12/2019 10h29

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          Violência sexual contra mulheres ganhou muita notoriedade em tempos recentes, principalmente com movimentos como #MeToo. A conscientização e repulsa do público, em geral, tem sido enorme à violência sexual, que inclui uma constelação de crimes, tais como assédio sexual, agressão sexual sem penetração e estupro. Mais de 40% das mulheres sofreram alguma forma de violência sexual durante a vida e a exposição à violência sexual tem sido associada a uma ampla gama de resultados adversos à saúde. A Organização Mundial da Saúde reconhece que a iniciação sexual forçada – a primeira relação sexual indesejada que é fisicamente forçada ou coagida – como uma forma distinta de violência sexual.  Dados sugerem a iniciação sexual forçada é um problema mundial cuja prevalência varia 0,8% a 38%. Um estudo liderado pelo Department of Medicine, Cambridge Health Alliance, nos EUA procurou estimar a prevalência e as consequências da iniciação sexual forçada de meninas.  Eles usaram dados da National Survey of Family Growth (2011-2017) com mais de 13 mil mulheres adultas, (18-44 anos), representativas da população americana. A pesquisa coleta periodicamente dados sobre vida familiar, casamento, gravidez, infertilidade, uso de contraceptivos e questões de saúde reprodutiva. As mulheres foram classificadas, por meio de autorrelato, em 2 grupos: primeira relação sexual forçada ou voluntária.

          O resultado mais impactante mostra que 6,5% das entrevistadas (1 em cada 16 americanas) relataram ter iniciação sexual forçada, o que equivale a 3.351.733 mulheres nessa faixa etária nos EUA. A idade de iniciação sexual forçada foi em média de 15,6 vs 17,4 anos para iniciação sexual voluntária. A idade média do parceiro/agressor no primeiro encontro sexual foi 6 anos maior para mulheres com iniciação sexual forçada versus voluntária (27,0 x 21,0 anos). O impacto negativo da relação sob coação é enorme com aumento de vários riscos à saúde: gravidez indesejada (aumento de 90%; 30,1% vs 18,9%), endometriose (60%; 10,4% vs 6,5%), doença inflamatória pélvica (120%; 8,1% vs 3,4%) e problemas com ovulação/menstruação (80%; 27,0% vs 17,1%); uso de drogas ilícitas (260%; 2,6% vs 0,7%) e saúde regular ou ruim (100%; 15,5% vs 7,5%). Os mecanismos pelos quais a iniciação sexual forçada pode estar associada a resultados adversos à saúde não são claros. Mas admite-se que sofrer violência sexual em um momento de maior vulnerabilidade psicológica e física pode ter sequelas deletérias a longo prazo. Alguns pesquisadores comparam a iniciação sexual forçada ao abuso sexual na infância, que reconhecidamente é associado a resultados adversos na saúde mental e física. No entanto, nesta publicação há indícios de que a iniciação sexual forçada tem impacto negativo independentemente da época em que ocorre e que mesmo entre mulheres que não sofrem mais violência sexual ela está associada a resultados adversos.

         As implicações são óbvias: definir políticas de saúde pública para impedir a iniciação sexual forçada e outras formas de violência sexual. Neste grupo estão incluídas a disseminação de programas locais que abordem os aspectos culturais (ligados à atividade sexual) e prevenção da violência, melhoria das oportunidades educacionais e de trabalho para mulheres/meninas e criação de ambientes protegidos nas escolas e locais de trabalho. A eficácia destas intervenções ainda precisa ser melhor avaliada, mas pelo menos é um passo neste enfrentamento que é urgente.

(Hawks et al. Association Between Forced Sexual Initiation and Health Outcomes Among USWomen. JAMA Intern Med. doi:10.1001/jamainternmed.2019.3500)

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Sobre o Autor

Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.

Sobre o Blog

Acompanhe os boletins do "Saúde feminina: um jeito diferente de entender a mulher" que discutem os assuntos que interessam as mulheres e seus parceiros. Uma abordagem didática e descontraída das mais recentes pesquisas nacionais e internacionais sobre temas como gravidez, métodos anticoncepcionais, sexualidade, saúde mental, menopausa, adolescência, atividades físicas, dieta, relacionamento conjugal, etc. Aproveite.

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