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Telesaúde funciona em ginecologia e obstetrícia?

Alexandre Faisal

28/04/2020 09h33

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Em meio à crise do COVID 19 a telemedicina vem ganhando enorme destaque. A prestação de assistência médica por meio de tecnologia proliferou rapidamente com o aumento do uso de aplicativos de telefone, mensagens de texto, whatsapp e outras mídias. Podemos chama-la de telemedicina ou telesaúde. Telessaúde, portanto, refere-se a qualquer serviço de saúde aprimorado pelas telecomunicações. Mas será que isso funciona?. Os estudos nesta área promissora são relativamente recentes e o estabelecimento de práticas baseadas em evidências nesta área emergente da prestação de serviços de saúde é importante para mitigar riscos e custos potenciais à saúde. Há sempre risco no caso da rápida adoção de novas tecnologias que não foram estudadas adequadamente. Pois bem, uma publicação recente no renomado periódico Obstetrics & Gynecology procurou analisar sistematicamente a eficácia das intervenções em telessaúde para melhora dos resultados em saúde obstétrica e ginecológica. Os pesquisadores queriam saber se a telessaúde melhora os resultados de saúde reprodutiva em gestantes de baixo e alto risco, no planejamento familiar e em ginecologia. A publicação foi liderada pelo Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da George Washington University, nos Estados Unidos. Os autores usaram 47 ensaios clínicos nesta revisão o que somou 31.967 participantes.

Vamos aos resultados: as intervenções de telessaúde melhoraram os resultados obstétricos relacionados à cessação do tabagismo e à amamentação e diminuíram a necessidade de visitas aos consultórios para seguimento de pré-natal de gestantes de alto risco, sem comprometer os resultados maternos e fetais. Elas também foram eficazes para a continuação da contracepção oral e injetável. Por exemplo, um estudo que usou mensagens de texto mostrou taxas de contracepção oral aumentadas aos 6 meses de seguimento. A provisão de telessaúde para serviços de interrupção medicamentosa da gravidez (lá isso é possível) teve resultados clínicos semelhantes na comparação com os cuidados presenciais para abortamento. De fato, a telesaúde se associou com maior acesso ao aborto precoce. Finalmente, alguns estudos sugeriram a utilidade da telessaúde para melhorar a notificação dos resultados dos testes de infecção sexualmente transmissível e até para melhora dos sintomas de incontinência urinária.

Embora esta revisão sistemática sugira algum benefício para intervenções específicas em telessaúde, especialmente por meio de mensagens de texto e monitoramento remoto, mais estudos são necessários. Uma das limitações apontadas pelos autores é que os resultados não podem ser diretamente generalizados para os países em desenvolvimento. Vamos torcer para que isso chegue logo aqui.

(DeNicola et al. Telehealth Interventions to Improve Obstetric and Gynecologic Health Outcomes A Systematic Review. Obstet & Gynecol 135, (2), 2020).

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Sobre o Autor

Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.

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