O que é um país "family-friendly"?
Alexandre Faisal
28/12/2020 13h12
Na sua opinião, o Brasil as políticas públicas são suficientes para favorecer os cuidados dos filhos pequenos pelos pais? Clique para votar
O nascimento de um filho é talvez o evento mais marcante da vida das pessoas. A chegada do bebê transforma vida dos casais sob diversos aspectos: econômicos, sociais, pessoais e sexuais. Novos papéis se estabelecem na rotina do marido e mulher passam a ser também papais e mamães. Como isso impacta as pessoas e como elas enfrentam estas mudanças varia enormemente entre os envolvidos. A experiência de ser pai e mãe, pode variar, em amplo espectro, indo de algo fantástico e maravilhoso a desesperador e insuportável. No geral é sempre uma vivência de muito trabalho. De cuidados contínuos com o bebê, em particular para a mulher. Daí que existem políticas públicas que podem levar em conta este delicado momento de vida das famílias. Estas políticas permitem que os pais possam conciliar o trabalho e os compromissos domésticos, com resultados positivos para a criança. Podemos chamar estas leis de "políticas favoráveis à família". Dentre estas práticas "family-friendly", estão incluídas a licença parental remunerada, apoio à amamentação, creche de alta qualidade e educação pré-escolar a preços acessíveis.
Um relatório da UNICEF analisou as políticas favoráveis à família em 41 países de renda alta e média usando quatro indicadores: a duração da licença remunerada disponível para as mães; a duração da licença remunerada reservada especificamente para os pais; a proporção de crianças menores de três anos em creches; e a proporção de crianças entre a idade de três anos e a idade escolar obrigatória em creches ou pré-escolas. Os resultados mostram que Suécia, Noruega e Islândia são os três países mais amigos da família. Do outro lado da lista, ou seja, os países menos favoráveis ao desempenho das famílias são o Chipre, Grécia e Suíça. A presença da Suíça deve causar espanto em muitos brasileiros que imaginam o país como lugar de muita ordem, dinheiro e chocolate. Dez dos 41 países não têm dados suficientes sobre matrículas em creches para serem classificados. Uma limitação do relatório é a ausência de informações atualizadas para comparar a qualidade dos centros de cuidados infantis ou as taxas e políticas de amamentação de alguns países. Fato parcialmente semelhante para a nossa situação, aqui no Brasil.
Políticas públicas deste tipo envolvem diversos aspectos: alocação de recursos, gestão eficiente, evidência dos benefícios para o bebê e casal e cultura de equidade e preservação de direitos individuais, em particular, da mulher e da criança. A conclusão do relatório é que há espaço para os países mais ricos do mundo melhorarem suas políticas familiares. Alguém duvida que a conclusão serve para o Brasil também?.
(Chzhen, Gromada & Rees. Are the world's richest countries family friendly? Policy in the OECD and EU. www.unicef-irc.org. © 2019 United Nations Children's Fund (UNICEF).)
Sobre o Autor
Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.
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