Médicos aprovam as "cirurgias femininas íntimas"?
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Os procedimentos estéticos vulvovaginais, também denominados de "cirurgias íntimas" ou "cirurgias cosméticas feminina", são um tópico novo na mídia. Uma publicação recente do Jornal Folha de São Paulo aborda a questão dando números e cara ao assunto. O Brasil é considerado campeão mundial de ninfloplastia (a redução dos pequenos lábios vaginais). Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica apontam a realização de mais de 25 mil intervenções no ano passado. Isso corresponde a 1.7% de todas as cirurgias estéticas feitas no país. Nos Estados Unidos foram realizadas mais de 13 mil cirurgias deste tipo. Difícil dizer se este número vem crescendo no Brasil já que as informações de procedimentos realizados em consultórios e clínicas são escassas. A cirurgia consiste na retirada do excesso de pele dos pequenos lábios e pode ser feita por meio de cirurgia convencional ou lazer. Os motivos alegados para a demanda de submissão aos procedimentos variam de estéticos aos funcionais. Nos funcionais, a mulher alega que os lábios menores hipertrofiados incomodam durante uso de roupas justas (ou íntimas) e se queixam, também de dor durante a relação sexual. Apesar da falta de estudos de boa qualidade e com seguimento longo, a publicidade sobre as cirurgias íntimas vem crescendo. De fato, esses procedimentos carecem de uma classificação coerente e de estudos randomizados, comparando mulheres que não foram operadas com aquelas submetidas às diferentes técnicas cirúrgicas. Mas, como se nota, essa falta de evidência não restringiu a divulgação desses procedimentos. De qualquer modo, o controle da publicidade sobre as cirurgias íntimas seria bastante difícil de ser implementado pelas sociedades médicas, que pouco a pouco, começam a assumir posições públicas e a publicar diretrizes. Mas e o que pensam os médicos sobre isso?.
Um estudo português publicado recente aborda esta questão muito interessante: conhecer a percepção, conhecimento e opinião pessoal dos médicos sobre esse tema. Isso poderia ajudar no desenvolvimento de diretrizes éticas para os profissionais de saúde e ao mesmo tempo disponibilizar informações para o público, em geral. Os autores realizaram entrevista online com 664 médicos e estudantes de medicina portugueses. A maioria dos participantes considerou que nunca ou raramente há uma razão médica para a realização dos procedimentos incluindo branqueamento vulvar (85,9%); plástica do hímen (72,0%); lipoaspiração da região da púbis (71,6%); aumento dos grandes lábios (66,3%) ou aumento dos pequenos lábios (58,3%). Mas esta percepção (de não haver razões médicas para a realização das cirurgias) foi mais comum entre os ginecologistas na comparação com os cirurgiões plásticos. Mas ai o estudo aponta uma (incrível) contradição: a maioria dos participantes considerou que as cirurgias íntimas podem contribuir para uma melhoria na auto-estima (92,3%), função sexual (78,5%), atrofia vaginal (69,9%), qualidade de vida (66,3%) e da dor na relação sexual (61,4%). Ou seja, ainda que os médicos e estudantes de medicina reconheçam a falta de evidência e bases científicas para a realização de procedimentos estéticos vulvovaginais, a maioria não levanta objeções em termos éticos. Principalmente se eles forem estudantes, cirurgiões plásticos, ou se eles próprios tiverem sido submetidos à cirurgia plástica ou considerem vir a sê-lo.
Como se vê, enquanto os médicos não definirem o que elas pensam sobre a cirurgia íntima será muito difícil orientar as pacientes. Vamos torcer para que sejam apenas o caso dos médicos portugueses.
(Vieira-Baptista, Pedro et al. Survey on Aesthetic Vulvovaginal Procedures: What do Portuguese Doctors and Medical Students Think?. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Aug 2017, vol.39, no.8,
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