Apenas 2 em cada 10 gestantes deprimidas recebem diagnóstico de depressão
Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a gestação não garante o bem-estar emocional das mulheres. Estar grávida não torna as mulheres imunes à depressão, ansiedade e outros problemas emocionais. Estudos indicam que depressão na gestação é tão ou mais comum quanto à depressão em outros momentos da vida da mulher. Alguns fatores, é claro, se associam ou agravam este risco: gestação não planejada, falta de suporte social, história de depressão prévia à gestação, violência doméstica, etc. Um problema adicional é que muitas gestantes deprimidas não chegam a receber o diagnóstico do problema e, consequentemente, não recebem, também, o tratamento adequado. E existem opções de tratamento tais como a psicoterapia e, com mais cautela, uso de medicamentos. Um estudo nacional estima a porcentagem de gestantes deprimidas que não receberam o diagnóstico de depressão numa consulta médica recente (últimos 30 dias).
Os pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo usaram dados de 22.445 mulheres em idade reprodutiva da Pesquisa Nacional de Saúde do Brasil (PNS 2013). Dentre as participantes, 800 relataram estar grávidas. Elas responderam o "Patient Health Questionnaire-9" (PHQ-9), um instrumento de avaliação de depressão e questionário com dados sociodemográficos, obstétricos e clínicos. A classificação do subdiagnóstico da depressão antenatal foi feita por meio da comparação entre os resultados obtidos na pergunta autorreferida que avaliava o diagnóstico clínico de depressão e os resultados do PHQ-9. Gestantes com suspeita de depressão no PHQ-9 (escore > 8) e com resposta "Não" na questão clínica foram classificadas como subdiagnóstico de depressão antenatal. Alguns resultados impressionam. A prevalência de subdiagnóstico de depressão antenatal foi de 82,3%. Ou seja, menos de 2 em 10 gestantes deprimidas recebem o adequado diagnóstico de depressão. Outros dados interessantes mostram o impacto das desigualdades nos cuidados de saúde. Gestantes de etnia não branca e com ensino fundamental completo tinham maior risco de serem subdiagnosticadas de depressão antenatal na comparação com gestantes brancas e com maior nível de escolaridade.
A mensagem final do artigo é que profissionais de saúde devem estar atentos ao sério problema da depressão na gravidez, que tem grandes impactos para a mãe e para a própria gestação. E parte desta atenção deve ser direcionada as desigualdades sociais, tão típicas do nosso Brasil.
(Faisal-Cury et al. Prevalence and associated risk factors of antenatal depression underdiagnosis: A population-based study. Int J Gynaecol Obstet . 2021 Jan 14. doi: 10.1002/ijgo.13593)
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