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Blog do Dr. Alexandre Faisal

Resistência à vacinação pode estar no passado

Alexandre Faisal

22/02/2019 15h21

 

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          Vacinação é um dos meios mais eficazes em termos de custo para a prevenção e controle de doenças infecciosas. Muitas vidas foram salvas graças ao advento das vacinas modernas. Como explicar então a resistência de muitas pessoas com a vacinação?. Mesmo quando doenças evitáveis voltam a nos incomodar. A explicação pode estar nos ecos do passado. É isso aí. Aumentar a taxa de vacinação depende não apenas da equação custo-benefício, mas também do passado histórico da vacinação. Esta é a conclusão de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Dartmouth, nos Estados Unidos e publicado no periódico Proceedings, da Royal Society B (de Biological). O artigo usa complexos modelos para mostrar que problemas passados com vacinas podem causar um fenômeno conhecido como histerese. Resumidamente, a percepção negativa associada à vacinação oriunda de fatos passados dificulta a aceitação do público das vacinas atuais. É como se as evidências positivas do benefício e segurança da vacinação não fossem suficientes para limitar temores em geral, infundados ou no mínimo raríssimos. É como se uma força prévia continuasse operando em detrimento da saúde populacional. O perigo não existe ou não está mais lá, mas ele continua ameaçador para as pessoas.

          O tema é atual dado as recentes baixas coberturas vacinais no Brasil. Por exemplo, dados da Pesquisa Nacional de Saúde indicam que todas vacinações para menores de 1 ano ficaram entre 70 e 84%, com a honrosa exceção da BCG que é ofertada na maternidade. Isso significa que até 30% destes bebês estão susceptíveis as doenças infecciosas. O cenário não é muito diferente em certos países europeus e nos Estados Unidos, onde se observa ressurgimento do sarampo e caxumba. Outros exemplos nacionais incluem, felizmente,  em menor proporção a crítica à vacinação de meninas contra o HPV. Para os autores, as eventuais imperfeições da vacinação, que incluem efeitos colaterais e imunidade parcial podem a partir da sua divulgação (muitas vezes inadequada) diminuir a confiança do público na vacina e, assim, corroer a intenção de um indivíduo de vacinar. O que o estudo revela é como as complicações relacionadas à vacina imperfeita mudam a atitude das pessoas sobre a aceitação da vacinação. A conclusão é que a baixa adesão à vacina é um problema de saúde pública que está também relacionado ao comportamento, as vezes, errático e irracional do ser humano. Como se vê, superar traumas do passado não se aplica apenas as consultórios de psicologia, mas também à saúde pública.

(Chen & Feng Fu. Imperfect vaccine and hysteresis. Proc. R. Soc. 286: 20182406. http://dx.doi.org/10.1098/rspb.2018.2406)

Sobre o Autor

Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.

Sobre o Blog

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