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Blog do Dr. Alexandre Faisal

Prescrição de drogas opioides após cesariana é excessiva e perigosa

Alexandre Faisal

27/10/2017 16h22

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Recentemente o Presidente Trump declarou guerra ao uso indiscriminado de opioides. Opioides são um grupo de fármacos derivados do ópio que tem ação analgésica central e são usados tanto para casos de dores agudas intensas, como nos estados pós-operatórios, como nas dores crônicas, muitas vezes associadas ao câncer. Em doses elevadas produzem sintomas como euforia, bem estar e estados hipnóticos, além de risco de dependência. Heroína e morfina fazem parte desta lista. O número de mortes por overdose dos opióides, nos Estados Unidos, quadruplicou em 15 anos, confirmando um quadro de epidemia de abuso no uso destas drogas. Mais de 100 norte-americanos morrem diariamente por overdose, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Esse aumento ocorre concomitantemente ao aumento acentuado na quantidade de opióides prescritos legalmente.  Será que isso é a realidade para as mulheres que se submeteram à cesariana?.

Dois estudos americanos chegam as mesmas conclusões: o uso de opioides é comum após a cesariana, em particular na primeira semana após o nascimento, sendo que mais de 80% delas receberam este tipo de medicação. No entanto, uma parte significativa destas mulheres não as usou, ou seja, elas receberam mais prescrições do que o necessário. Num dos estudos houve sobre da medicação em 75% dos casos e estas drogas ficaram guardadas em casa. No outro estudo com 720 mulheres que haviam dado à luz nas últimas 2 semanas, oriundas de 6 centros médicos acadêmicos, a quantidade de opióides dispensados não se correlacionou com a satisfação da paciente, com o controle da dor ou com a necessidade de renovação da receita de opióides. Mais ainda, a prescrição mais restrita de opiáceos se associou com o menor consumo sem um aumento concomitante no escore de dor ou insatisfação. Dito de outro modo, mais prescrição mais consumo e vice-versa.

Os dois artigos destacam ainda o risco da sobra deste tipo de medicação em casa. Estudos confirmam que a maioria das pessoas que utilizam opiáceos sem indicação médica, ou seja, sem uma prescrição médica, obtém este tipo de medicamento de familiares ou amigos que receberam a prescrição dos opioides e não usaram. Para muitos, o consumo de opioides é uma porta aberta para o consumo de heroína. E no caso da mulher que acabou de dar à luz e está amamentando há um risco adicional: a passagem dos fármacos para o bebê. Diante desta realidade o que fazer?. Um dos artigos propõe explicitamente reduzir a prescrição de opioides para as puérperas. Ambos enfatizam a necessidade de lidar com os comprimidos que acabam não sendo usados. Devolução aos centros de saúde e profissionais e adequada destruição são duas possibilidades.

O presidente Trump, conhecido por batalhas infantis e inúteis, está longe de ser uma unanimidade entre americanos e cidadãos do mundo inteiro. Mas neste caso ele escolheu a guerra certa para lutar.

(Bateman et al. Patterns of Opioid Prescription and Use After Cesarean Delivery. Obstet Gynecol 2017;130:29–35; Osmundson, et al. Postdischarge Opioid Use After Cesarean Delivery. Obstet Gynecol 2017;0:1–6).

 

Sobre o Autor

Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.

Sobre o Blog

Acompanhe os boletins do "Saúde feminina: um jeito diferente de entender a mulher" que discutem os assuntos que interessam as mulheres e seus parceiros. Uma abordagem didática e descontraída das mais recentes pesquisas nacionais e internacionais sobre temas como gravidez, métodos anticoncepcionais, sexualidade, saúde mental, menopausa, adolescência, atividades físicas, dieta, relacionamento conjugal, etc. Aproveite.

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