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Blog do Dr. Alexandre Faisal

Comida ultraprocessada aumenta em 12% risco de câncer mamário

Alexandre Faisal

16/02/2018 13h23

 

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Morre-se pela boca. O ditado popular acaba de ganhar arcabouço científico. Dos bons. Pesquisadores franceses e de diversos países publicaram os resultados de um grande estudo longitudinal que procurou avaliar a relação entre consumo de alimentos ultraprocessados e risco de câncer. Mais de 104 mil participantes com idade mínima de 18 anos ( idade média foi de 42 anos) foram seguidos na coorte francesa NutriNet-Santé no período de 2009 a 2017. Informações sobre dietas foram coletadas por meio da web usando registros dietéticos das últimas 24 horas, em vários momentos, projetados para registrar o consumo usual dos participantes em 3300 itens alimentares diferentes. Estes ingredientes foram então categorizados de acordo com seu grau de processamento pela classificação intitulada NOVA. Esta classificação criada por pesquisadores brasileiros ganha, cada dia, mais adeptos no mundo inteiro. Basicamente ela divide os alimentos em 4 grandes grupos sendo que o último grupo é constituído de alimentos muito processados e incluem substâncias que não fazem naturalmente parte da dieta.  Quanto maior o grau maior o processamento e mais longe ficamos do alimento mais natural e, em tese, mais saudável. Ao longo do tempo foram coletados com os participantes e por meio de registros médicos o aparecimento de câncer em geral, incluindo mama, próstata e colorretal.

Os resultados inéditos mostram que a ingestão de alimentos ultraprocessados se associou com maior risco global de câncer, com aumento de 12% no risco para câncer de mama. Estes resultados não se modificaram após controle por outras variáveis tais como uso de álcool, tabagismo, atividade física e uso de reposição hormonal/pílulas contraceptivas. As explicações são ainda possibilidades, mas incluem o alto teor glicêmico que contribui para a epidemia de obesidade que é por sua vez fator de risco vários tipos de câncer no homem e na mulher (mama pós-menopausa, estômago, fígado, colorretal , câncer de estômago, pâncreas, rim, vesícula, endométrio, ovário, fígado e câncer de próstata (avançado) e malignidades hematológicas). Uma segunda hipótese diz respeito à ampla gama de aditivos contidos em alimentos ultraprocessados. Embora os níveis máximos autorizados normalmente protejam os consumidores contra os efeitos adversos de cada substância individual em um determinado produto alimentar, o efeito sobre a saúde da ingestão cumulativa de todos os alimentos ingeridos e potenciais efeitos de coquetel / interação permanece em grande parte desconhecido. Estudos experimentais em modelos animais mostraram que alguns aditivos/conservantes autorizados tem propriedades cancerígenas que merecem maior investigação em seres humanos (por exemplo, o dióxido de titânio, aspartame). Em terceiro lugar, a embalagem e o processamento de alimentos e particularmente os tratamentos térmicos produzem novos contaminantes (por exemplo, acrilamida) em produtos ultraprocessados, como batatas fritas, biscoitos, pão ou café. Eventualmente o perigo pode estar justamente aí. Enfim se alguns estudos já sugeriram que a associação entre alimentos ultraprocessados e obesidade, hipertensão, e dislipidemia, esta nova publicação mostra também um risco aumentado de câncer.

Como se vê, o ditado tinha razão.

(Fiolet et al. Consumption of ultra-processed foods and cancer risk: results from NutriNet-Santé prospective cohort. BMJ 2018;360:k322)

Sobre o Autor

Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.

Sobre o Blog

Acompanhe os boletins do "Saúde feminina: um jeito diferente de entender a mulher" que discutem os assuntos que interessam as mulheres e seus parceiros. Uma abordagem didática e descontraída das mais recentes pesquisas nacionais e internacionais sobre temas como gravidez, métodos anticoncepcionais, sexualidade, saúde mental, menopausa, adolescência, atividades físicas, dieta, relacionamento conjugal, etc. Aproveite.

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