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Blog do Dr. Alexandre Faisal

Atividade social é fator de proteção para demência?

Alexandre Faisal

06/09/2018 14h43

 

 

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De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o número de pessoas com idade superior a 60 anos chegará a 2 bilhões de pessoas até 2050;  isso representará um quinto da população mundial. O Brasil tem agora 208 milhões de habitantes (aumento de 800 mil pessoas em relação a 2017). Nossa população está crescendo menos graças a menor taxa de fecundidade e observamos uma inédita diminuição da relação entre idosos e jovens. Em 2060 (até lá seremos 228 milhões de brasileiros), a porcentagem de idosos irá dobrar atingindo 32% da população, enquanto a porcentagem de jovens até 14 anos cairá dos atuais 21% para 15%. Uma das preocupações acerca deste fenômeno é relacionada ao declínio cognitivo associado ao envelhecimento. A piora cognitiva representa um tremendo fardo para os próprios pacientes, famílias e sociedade. A função cognitiva pode ser influenciada por vários fatores, incluindo idade, gênero, nível educacional e socio-econômico e estado civil.  Encontrar estratégias eficazes para prevenir ou retardar o comprometimento cognitivo é fundamental. Evidências demonstram que a atividade de lazer pode ter um efeito benéfico na preservação da função cognitiva. A atividade social é considerada outra forma de estilo de vida ativo, juntamente com atividades físicas e cognitivas. E diversos estudos mostram que a atividade social é benéfica para vários desfechos de saúde, incluindo estado de saúde física, estado de saúde mental e qualidade de vida. Os indivíduos podem melhorar sua autoestima, competência e obter papéis sociais significativos por meio da participação em atividades sociais .Mais ainda, ao interagir com pares, a pessoa tem ótimo estimulo intelectual, importante protetor da capacidade cognitiva.

Um estudo liderado por pesquisadores do Departamento de Psiquiatria da Guangzhou Medical University procurou explorar a relação entre atividade social e função cognitiva entre idosos chineses residentes em duas grandes cidades do sul da China. No total 557 idosos sem demência com 60 anos ou mais (média de 73 anos) foram recrutados nos centros sociais em Hong Kong e Guangzhou. Um questionário de atividades de lazer foi utilizado para medir a participação da atividade social e a função cognitiva foi examinada usando uma bateria de testes neuropsicológicos. Os resultados mostram que as atividades sociais tiveram relações significativas ainda que modestas  com os escores de alguns testes cognitivos (ex:teste de aprendizagem de lista de palavras). Alguns tipos de atividades sociais se mostraram ainda mais benéficos para a função cognitiva, incluindo assistir a uma aula de interesse, fazer curso, atividade religiosa e canto. No caso da música, é possível que cantar envolva um processo complexo (e positivo) de combinar uma seqüência de palavras e melodias em uma ordem específica. Este tipo de memorização fornece claramente estimulação cognitiva. Quanto as atividades religiosas, elas podem ser úteis para os idosos relaxarem e lidarem com os efeitos da solidão e isolamento que são tão prevalentes nesta fase da vida. O estudo apresenta algumas limitações tais como o desenho transversal e a dificuldade em separar atividade social do estímulo intelectual, importante protetor de declínio cognitivo. Mas reforça alguns achados de estudos prévios que sugerem o benefício das atividades sociais (religiosas, encontros com amigos, ingressos em clubes, encontros com parentes ou colegas de classe, trabalho voluntário e organizações políticas) para evitar a demência.

Futuros estudos devem abordar as diversas dimensões e tipos de atividade social incluindo medidas de quantidade e qualidade. Mas até lá fica a mensagem: vamos entrosando galera.

(Su et al. The relationship of individual social activity and cognitive function of community Chinese elderly: a cross-sectional study.  Neuropsychiatric Disease and Treatment 2018:14 2149–2157)

Sobre o Autor

Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.

Sobre o Blog

Acompanhe os boletins do "Saúde feminina: um jeito diferente de entender a mulher" que discutem os assuntos que interessam as mulheres e seus parceiros. Uma abordagem didática e descontraída das mais recentes pesquisas nacionais e internacionais sobre temas como gravidez, métodos anticoncepcionais, sexualidade, saúde mental, menopausa, adolescência, atividades físicas, dieta, relacionamento conjugal, etc. Aproveite.

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