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Blog do Dr. Alexandre Faisal

Revistas femininas idealizam os tratamentos de fertilidade ?

Alexandre Faisal

26/07/2019 10h24

 

Você acha que revistas voltadas para o público feminino abordam claramente os tratamentos de fertilidade para mulheres mais velhas ?Clique aqui para votar

Em diversos países do mundo incluindo o Brasil, a idade média da mulher para o nascimento do primeiro filho vem crescendo. Nos Estados Unidos ela passou de, aproximadamente,  21 anos, em 1970, para 26 anos, em 2014. Este fenômeno é multifatorial e nele incidem aspectos sociais, comportamentais e desenvolvimento tecnológico. Mulheres se casam mais tarde e almejam crescimento profissional e educacional antes da maternidade. Muitas contam com os progressos das técnicas de reprodução assistida (TRA). No entanto, o tempo não para e há claro declínio da capacidade reprodutiva na quarta década de vida que é agravado pelo aumento do risco de abortos espontâneos e complicações obstétricas. Mesmo para mulheres submetidas a TRA, o avanço da idade materna se associa com menores taxas de sucesso e maiores taxas de abortamento. Embora o título não agrade, a gestação em mulheres em idade avançada não é isenta de riscos. A questão se complica já que muitas mulheres (homens também) subestimam o risco de declínio da fertilidade relacionado à idade e acham que a tecnologia dá conta do recado quando o momento da gravidez chegar. Mas como se comportam as revistas impressas voltadas para o público feminino quanto ao tema?. Qual a impressão que estas revistas fornecem ao público ao usar o depoimento de celebridades que engravidaram tardiamente?. Uma pesquisa liderada por pesquisadora da New York University School of Medicine fez  uma análise quantitativa e qualitativa das principais revistas impressas americanas voltadas para as mulheres em idade reprodutiva.

O artigo avaliou o conteúdo das reportagens sobre maternidade, tais como uso da TRA e menção dos riscos relacionados à gravidez na idade materna avançada (IMA).  Elas analisaram quatrocentos e dezesseis edições de revistas publicadas entre janeiro de 2010 e janeiro de 2014 que incluíram 1.894 manchetes, fotos ou textos relacionados à fecundidade. A fertilidade foi destacada em um terço de todas as capas de revistas. Duzentos e quarenta celebridades receberam pelo menos uma representação relacionada à fertilidade. A maioria (56%) era da IMA; apenas duas menções de riscos obstétricos relacionados à IMA foram incluídas. Três das 240 celebridades (1,25%) foram relatadas como tendo usado TRA. Quarenta e cinco celebridades (33%) tinham pelo menos 40 anos de idade no momento da menção; algumas mulheres com mais de 44 anos foram retratadas como grávidas ou mulheres que tiveram um bebê saudável, sem nenhuma menção à TRA. A utilização de gametas (óvulos) de doadoras não foram nunca mencionados. No geral, todas as revistas citavam algum tipo de método contraceptivo, mas apenas 10 revistas (2,4%) mencionaram qualquer forma de TRA para em idade reprodutiva. Tudo isso sugerindo a gestação pode ficar para depois e que ela, mesmo mais tarde, será natural, não assistida e sem complicações.

A conclusão da publicação causa preocupação já que revistas populares com celebridades tem impacto na disseminação de informações para alguns grupos de pessoas: a mídia popular, amplamente consumida, minimiza o impacto da idade na fertilidade. As revistas promovem a contracepção,e vendem um cenário favorável para gestação tardia que esconde o uso frequente de TRA, doação de óvulos  e complicações obstétricas. Para ser mais claro, o conteúdo das revistas pode contribuir para a desinformação do público sobre gestação tardia. Da próxima vez que você ouvir um relato de uma gestação maravilhosa de uma celebridade global, pense que a vida não é exatamente um filme ou novela.

(Willson et al. "Age is Just a Number'': How Celebrity-Driven Magazines Misrepresent Fertility at Advanced Reproductive Ages. Journal of Women's Health, 2019. DOI: 10.1089/jwh.2018.7433)

 

Sobre o Autor

Alexandre Faisal é ginecologista-obstetra, pós-doutor pela USP e pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP. Formado em Psicossomática, pelo Instituto Sedes Sapientiae, publicou o livro "Ginecologia Psicossomática" e é co-autor do livro "Segredos de Mulher: diálogos entre um ginecologista e um psicanalista”. Atualmente é colunista da Rádio USP (FM 93.7) e da Rádio Bandeirantes (FM 90.9). Já realizou diversas palestras médicas no país e no exterior. Apresenta palestras culturais e sobre saúde em empresas e eventos.

Sobre o Blog

Acompanhe os boletins do "Saúde feminina: um jeito diferente de entender a mulher" que discutem os assuntos que interessam as mulheres e seus parceiros. Uma abordagem didática e descontraída das mais recentes pesquisas nacionais e internacionais sobre temas como gravidez, métodos anticoncepcionais, sexualidade, saúde mental, menopausa, adolescência, atividades físicas, dieta, relacionamento conjugal, etc. Aproveite.

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