Farmacêuticos ou médicos prescrevem maior suprimento de contraceptivos ?
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A taxa de gravidez indesejada nos EUA, no Brasil e muitos outros países é bastante alta. Aproximadamente metade de todas as gestações não são planejadas, um problema que afeta particularmente mulheres mais jovens e com pior status socioeconômico. Existem diversos métodos contraceptivos, eficazes e seguros na prevenção da gravidez indesejada. No entanto, existem barreiras para o uso contínuo e correto destes diferentes métodos. Melhorar o acesso à contracepção, especialmente entre as populações vulneráveis é tarefa complexa que demanda inovação e ousadia. A prescrição de anticoncepcionais por farmacêutico é uma destas estratégias promissoras para aumentar o acesso à contracepção para novas usuárias ou para promover a continuação entre as usuárias atuais. Farmácias geralmente estão bem localizadas nas comunidades, têm horários estendidos em comparação com as clínicas médicas e não requerem agendamento de consultas para suas usuárias. Será que isso de fato funciona?. Será que há diferenças nas quantidades de contraceptivos dispensados por farmacêuticos e médicos ?.
Estas questões foram o tema de uma pesquisa liderada pelo Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Oregon Health & Science University, nos EUA. Eles avaliaram prospectivamente 410 mulheres, de 18 a 50 anos (média de 27 anos), que se apresentaram a farmácias na Califórnia, Colorado, Havaí e Oregon para contracepção hormonal prescrita por um clínico ou farmacêutico entre 30 de janeiro e 1º de novembro de 2019. Elas haviam recebido um tipo de contracepção diretamente de um farmacêutico (n=144) ou por prescrição médica tradicional (n=266). As mulheres que obtiveram contracepção de um farmacêutico eram significativamente mais jovens, com menor escolaridade e menor chance de ter seguro médico na comparação com mulheres com receita médica. Os resultados mais interessantes mostram que farmacêuticos eram significativamente mais propensos a prescrever um suprimento de 6 meses ou mais de contraceptivos do que os médicos (6,9% vs 1,5%) e significativamente menos propensos a prescrever suprimento de apenas 1 mês (29,2% vs 44,4%). As mulheres atendidas por farmacêuticos tinham 3.5 vezes mais chance de receber um suprimento de anticoncepcionais por 6 meses ou mais na comparação com aquelas atendidas por médicos. Os farmacêuticos eram tão propensos quanto os médicos a prescrever um método somente de progesterona para mulheres com uma possível contraindicação ao estrogênio. Ou seja, a prescrição correta não foi diferente entre os dois profissionais. Ótima novidade para as mulheres, no geral, e em particular, para aquelas mais vulneráveis, que não podem contar com acesso amplo aos serviços de saúde. Vale destacar que desde 2016, nos Estados Unidos, 11 estados expandiram o escopo dos farmacêuticos para incluir a prescrição direta de anticoncepcionais hormonais.
O estudo mostra que a prescrição de anticoncepcionais nas farmácias pode contribuir para o uso prolongado dos anticoncepcionais e reduzir interrupções de uso. Parece óbvio: estoque maior de contraceptivos à mão sempre ajuda na manutenção do seu uso. Só não é muito óbvio os motivos que levam médicos, na comparação com farmacêuticos, a fornecerem menor suprimento de contraceptivos. O estudo reflete dados da realidade americana e, portanto, tem que ser contextualizado no caso da comparação com mulheres de outros países, como, por exemplo, do Brasil. Mas tudo indica que aqui, como lá, no caso dos contraceptivos, "mais é menos". Menos risco de gravidez não planejada.
(Rodriguez et al. Association of Pharmacist Prescription With Dispensed Duration of Hormonal ContraceptionJAMA Network Open. 2020;3(5):e205252. doi:10.1001/jamanetworkopen.2020.5252).(
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